Entrevistas #4 Crianças Ocupadas?

2 de outubro de 2012

Fiz esta "entrevista"(2009) ainda não tinha eu filhos em idade escolar e já comparava com alguns modelos seguidos pelos países nórdicos na altura.
A opinião manteve-se...mas com algo novo, as crianças têm na minha opinião uma grande carga escolar e nós pais depois "enchemos" com mais actividades que pensamos nós serão benéficas para a sua vida a curto ou longo prazo. No meu caso...se os meus filhos quiserem desistir dessas actividades são livres de o fazer...mas vida não devia ser apenas a escola.


Pois isso torna tudo demasiado aborrecido...

Quanto aos trabalhos de casa desde a primeira reunião com a professora (e contra todos os outros pais e comentários que já vi por esses blogs e facebooks)  marcámos uma posição, são feitos sempre que for possível e extremamente importante se eles apresentarem  dificuldades nessa matéria...em vez da brincadeira e das actividades que acho tb serem prioritárias para a idade.

Agora como "castigos", "falta de tempo para matéria das aulas" e afins...não concordo.

De qq forma sou Mãe para ter livros de exercícios em casa e fazer isso durante meia hora no fim de semana ou mais se for necessário...

A Entrevista - 

Crianças Ocupadas
Explique-nos em algumas palavras porque escolheu este titulo para o seu livro?

Escolhi este título porque as crianças com quem tenho trabalhado, quer como animadora, quer como investigadora, têm um horário de trabalho muito pesado (cerca de 8 a 9 horas diárias) que se divide entre diversas actividades dentro e fora da sala de aula, na escola ou noutras instituições e ficam com muito pouco tempo para brincar.
Estarem Ocupadas não é por si só bom ou mau para as crianças, tudo depende do tipo de actividades e da forma como são propostas às crianças. No entanto, pela investigação  que realizei concluí que algumas opções erradas podem estar a prejudicar as crianças. Daí o subtítulo do livro.


Parecendo um pouco extremo, “as crianças trabalharem numa idade que deveriam brincar não é bom para elas…e o facto de irem para à escola muito cedo tendo uma carga horária “pesada” será bom? Quando terão tempo para se divertirem? 
Trabalho a mais é sempre muito mau para as crianças, como aliás para os adultos.
A História mostra como temos vindo a lutar por mais tempo de descanso para os adultos e paradoxalmente cada vez sobrecarregamos as crianças com trabalho em função da socialização escolar. As crianças compreendem desde cedo que brincar não é, para os pais, nem para a escola, essencial e apercebem-se disso pelas conversas e atitudes dos adultos e pela forma como se comportam perante a brincadeira.
Mas a verdade é que brincar é um direito. As crianças precisam de brincar e se não as deixarmos elas arranjam formas de o fazer. Por vezes nos sítios menos próprios.

Os pais ainda têm aquela visão “do tens que estudar muito, para teres um curso, arranjares um bom emprego e seres alguém.” Essa visão vai acabar por sufocar os nossos filhos mais tarde? Que tipo de valores deveríamos estar mais preocupados em incutir? Até porque hoje em dia mesmo estudando nada nos garante  um posto de trabalho, basta olhar para os desempregados licenciados.

Eu penso que essa ideia está já a sufocar as crianças. As crianças são alguém desde que nascem..  e têm de ter um presente adequado ao seu ritmo e tamanho. Os pais e encarregados de educação vivem tão ansiosos com o futuro das crianças que por vezes se esquecem que as crianças têm de brincar e ter tempo para ser crianças.
O receio alimentado pelo espectro do desemprego e pela incerteza económica, a consciência da dificuldade, que se percebe crescente, do filhos/as virem a arranjar um (bom) emprego, tem aumentado brutalmente a pressão que os pais exercem sobre as crianças para que multipliquem as suas actividades directamente formativas, a fim de se prepararem para um futuro difícil e muito competitivo. 
Mas, mesmo considerando que atribuir às crianças mais trabalho é para seu bem, e que mais formação dá sempre mais emprego, o trabalho escolar formal ou o trabalho escolarizado, sendo muito importante, não deveria ter uma carga horária tão ou mais pesada do que a que tem a ocupação laboral para os adultos.

Concorda com o modelo de escola a Tempo Inteiro? È mesmo bom para a socialização? E o resto? O que perde a criança e o que ganha realmente?
A Escola estar aberta todo o dia é uma medida socialmente útil e importante para os pais. A questão não é se a medida é boa ou má. A questão é se tem uma influência positiva nas crianças. É preciso perceber o impacto destas medidas na vida das crianças.
 As crianças podem e devem fazer tudo o que for importante para elas, desde que lhes seja garantida a oportunidade de escolher. Aliás, detestam estar sem fazer nada. E, para algumas delas, a única hipótese de ter algumas actividades é mesmo na escola. E é justamente por isso que temos de ser muito exigentes em relação à forma como essas actividades são sugeridas e implementadas, para que elas as possam aproveitar plenamente.

O que acha que é realmente importante para que os nossos filhos se tornem felizes, tendo em mente o seu livro Crianças Ocupadas? Devemos criar actividades e diversões que ajudem as crianças a desenvolver capacidades básicas, como a criatividade, coordenação ou sociabilidade, enquanto se divertem? E não apenas enquanto estudam?
Como podemos faze-lo?
Brincar é um direito que as crianças têm e vem consagrado na Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Precisamos de garantir que haja condições sócio-espaciais para que elas brinquem, espaços de ar livre, condições para as crianças serem crianças ... 
A actividade escolar tem uma legitimidade, aceitação e superioridade em relação ao brincar, que é considerado actividade de menor importância. O mesmo sucede, às vezes, com o jogo, pois muitos pais têm uma informação e um conhecimento muito limitado do que este significa, entendendo-o somente como exercício físico ou desporto, interessante para a saúde ou para o desenvolvimento motor,  ignorando o seu potencial como forma inegável de ligação das crianças ao mundo. 


Como lhe parece possível se os pais mal têm tempo para o básico (fazer o jantar, lavá-los e deitá-los!!) O que estará mal?
Não é nada fácil... Mas o que me parece realmente importante é a qualidade do tempo que dedicamos às crianças, aos nossos filhos. O carinho, a compreensão, saber ouvir, prestar realmente atenção... é fundamental. Como as crianças gostam de fazer imensas coisas temos de as envolver nas coisas que fazemos e envolvermo-nos nas coisas que elas gostam. Por exemplo: as crianças mais pequenas gostam de fazer tarefas domésticas, gostam de partilhar, conversar, perguntar e saber. Os educadores sabem disto. Mas muitas vezes não têm tempo porque dividir tarefas e dar atenção exige muita disponibilidade e o cansaço dos pais quase sempre se sobrepõe a esta forma de educar. Como em tudo na vida temos de ter prioridades e saber de que lado estamos. 
Penso que não há receitas, tudo depende das crianças, que são todas diferentes, e dos  seus contextos de vida .

Para que serve os TPCs na sua opinião? São mais “um pouco de escola” que se trás para casa quando se devia descansar, brincar ou simplesmente conviver com os pais?
Servirá mesmo para os ajudar no seu estudo? Ou é apenas mais uma obrigação, algo mecânico que acaba por não ter os objectivos esperados ? 
Vi muitos comentários à cerca desta questão dos tpc e curiosamente está provado que é algo enraizado, as pessoas acham q o tpc é mesmo obrigatório existir…concorda?Vi pais falarem no gosto pelo trabalho, pelo estudo…mas parece-me que não estamos a dar oportunidade para que isso aconteça  não estamos a incutir gosto, mas sim obrigação…não lhe parece? 


Qual a sua opinião sobre os “Chamados Trabalhos de Casa” ?
Os “trabalhos de casa”, também conhecidos por TPC, fazem parte, intrinsecamente, da discussão sobre a Escola e a escolarização, e têm estado presentes em todos os ambientes familiares independentemente do seu contexto social e/ou cultural. No entanto, não têm exactamente o mesmo tipo de consequências, positivas e /ou negativas, em todas as crianças.
Uma das funções dos “trabalhos de casa” é servir a instituição que os determina e neste sentido as crianças habituam-se a fazê-los e a obedecer aos educadores. Este tipo de trabalho tem por base uma actividade intelectual compulsiva a um ritmo muito grande e uma dimensão social ligada à vida em grupo, o que o impede de ser reduzido a uma actividade que depende somente da vontade e do interesse individual de cada criança. Nesse sentido, não pode ser analisado ou perspectivado somente como alguma coisa que depende do esforço individual  da criança/aluno. 

Acha que se devia caminhar para uma educação online? E uma redução no horário de trabalho dos pais que assim podiam passar mais tempo com os filhos? 
Esta questão é complexa. Há pais e pais e alguns até não trabalham e mesmo assim não conseguem dar atenção aos filhos. Depende muito do conceito de infância e da nossa perspectiva sobre o que é ser criança.

Qual é a sua solução?
Penso que não há receitas. È preciso ter bom senso. 

Acha que estamos a obrigar os nossos filhos a viver á pressa?
Sim, acho que estamos a obrigar as crianças a viver à pressa e a adiar sempre a possibilidade de brincar e descansar em nome de um futuro incerto. 

Comments

Desabafe o que lhe vai na Alma!