O cheiro...

29 de novembro de 2013

Gosto de livros...adoro ler e um dia lembro-me de ter dito que, quando fosse Mãe, nem pensar eu não ter tempo para folhear, navegar nas histórias que lia...mas foi o que aconteceu...tenho pouco tempo. E lamento...


Adorei  ler o livro, o Perfume do Patrick Suskind li e reli.
Acho a história incrível, as pessoas não imaginam nas suas vidas a importância real que o cheiro pode ter...e se parassem para pensar, realmente entenderiam e achariam extraordinário.

Quando o meu avô morreu, guardei o seu boné num saco.
Quando as saudades apertavam mais...ia buscar esse saco, abria-o e cheirava-o...
O cheiro reconfortava-me, eu chorava muito...e voltava a guardar o saco bem fechado para o cheiro não desaparecer...

Passado algum tempo a minha avó acabou por morrer também...foi uma época complicada para mim...o fim da adolescência com o início da idade adulta.
Dela guardei num saco o seu lenço favorito e o avental. (coloca o avental menina, dizia ela das poucas vezes que dizia precisas de ajuda avó...ela gostava de fazer tudo sozinha).
Sempre que ficava com saudades deles abria o saco e zás começava a cheirar aqueles pedaços de roupa...e isso reconfortava-me muito...era como se estivessem ali comigo e eu contasse tudo o que me fazia sentir mal ou bem...

O cheiro foi desaparecendo...e qd desapareceu chorei muito...lembrava-me deles, tinha fotos, mas aquele cheiro deles, da sua casa, das memórias, minhas, nossas...morrera um pouco.

Hoje quando abri o fecho do meu secador de roupa...o cheiro das toalhas e dos napperons saiu de lá disparado, misturando-se com o amaciador...e eu parei, fechei os olhos...das poucas coisas com que ficara da minha tia...relembrei cada canto da casa, a minha tia que me dava moedas ás escondidas do meu tio que era um avarento, as batatas fritas que me fazia para levar para a praia...os iogurtes de limão nos piqueniques no campo...o olhar de ciúme silencioso que deitava porque sabia que eu gostava mais da minha avó que dela.
E chorei...agarrada às toalhas e napperons...até o cheiro se desvanecer suavemente no ar.

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